Texto: Miriam Gimenes
Nunca a humanidade, pelo menos das últimas gerações, havia passado por uma situação parecida a que vivenciamos hoje em razão da pandemia do coronavírus. É tempo de incertezas, de angústias, de orações, mas também é um período para se renovar. E é este último verbo que tem norteado não só a direção e o corpo docente do Colégio Xingu - que tem se desdobrado para levar educação de qualidade, ainda que virtual, para os estudantes -, como também dos pais e alunos, que vivenciam uma situação inusitada dentro de suas respectivas casas.
É o caso de Alexandra, mãe de Sarah, que cursa o 5º ano. Desde que o isolamento começou, ela procurou definir rotina com os filhos - também é mãe de Nathan, 7 anos. Para tanto, colocou um quadrinho em seus respectivos quartos para que saibam que, após as tarefas rotineiras, como tomar café da manhã, por exemplo, têm de se dedicar aos estudos. “São duas horas pela manhã e outras duas no fim da tarde. Aqui tem dado muito certo. Os dois têm gostado das atividades on-line, fazem tranquilamente. E eu não intervenho muito, o que tem dado autonomia para fazerem. Depois faço correção e se percebo erro falo sobre o que precisam melhorar.” Depois da ‘obrigação’, podem brincar até o fim da tarde, quando se dedicam a aulas de reforço, arte e vídeos educativos.
Alexandra acrescenta que é importante, neste momento, mostrar o lado bom da família estar unida. “Não deixamos as crianças assistirem aos jornais para que não sofram o abalo emocional. Deixamos essa preocupação para nós, adultos. Quando elas reclamam que não estão saindo, buscamos mostrar o lado positivo, da convivência familiar. São momentos preciosos que, por causa da correria do dia a dia, a gente não conseguia fazer tanto.” Ela diz que quando as crianças voltarem à escola não pretende cobrar da instituição nada além do que já está sendo feito.
“Eu também sou professora e vejo que por muito tempo a escola foi tomando papéis que eram da família. A responsabilidade principal da escola é a aprendizagem e ensino, e o papel emocional, das crianças, educação, respeito ao próximo, valores, saúde emocional, os pais deixaram de exercer. O que espero é que a sociedade use esse momento para realmente reforçar os laços familiares, ensinar valores para as crianças, que as mães tenham esse tempo não só de estudos, mas de dar atenção, de brincar junto, de conversar, para que realmente resgate o papel social da família e que ao voltar, a escola consiga cumprir com seu papel de ensinar.” Assim, acredita, as crianças retornarão mais felizes e fortes emocionalmente. “Para que não seja preciso a professora mediar conflitos o tempo todo”, observa.
O mesmo ocorre com Viviane Abatepaulo, mãe da Julia, do 4º ano. Ela tem aproveitado a quarentena para intensificar os laços com a pequena. As atividades que têm sido desenvolvidas pela internet ajudam na troca de conhecimentos. “Junto com ela acabo até aprendendo, vivenciando as videoaulas. E esse momento que estamos vivendo, de tensão, medo e insegurança com o amanhã, tem sido positivo até para nós como família, de poder compartilhar, aprender, fazer atividades juntos.” A mãe tem notado até mais empenho da filha.
Mas, ainda assim, Julia não deixa de ser criança. Se sente presa, sem ter onde gastar as energias normais dessa idade. “Por mais que a gente tente amenizar, se nós estamos sentindo imagine eles, que têm uma disposição muito mais elevada. Por isso, acho que o retorno à escola vai representar liberdade, estarão eufóricos, cheios de histórias para contar e vão querer brincar.” Viviane acha que será necessário um tempo de readaptação, acolhimento, para só então retomarem as atividades escolares. “Espero que logo encontrem algo para combater esse vírus e a nossa vida volte à normalidade o mais breve possível.”
A continuidade das atividades escolares promovidas pelo Colégio Xingu durante este período em casa, também foram aprovadas por Vanessa Sato, mãe de Benicio, do Infantil II. “Deu tempo para as mães se adaptarem, darem um rumo familiar e aprenderem a acompanhar as ações virtuais”, explica. Agora em isolamento, ela tem aproveitado o momento com Benício após as adaptações. “Estamos curtindo ficar mais com o nosso filho, aproveitando os momentos, fazendo atividades. É muito bom acompanhar sua evolução de perto.” Com o retorno à sala de aula, a mãe acredita que a escola deva primar pelo conteúdo sim, mas também pela convivência. “Eles sentem falta desse convívio com as outras crianças, de brincar. Não é a mesma coisa brincar com adulto. A atividade entre eles é mais prazerosa.” O que vale, nesse momento de preocupações constantes, é tirar o que nela há de melhor. “E futuramente, quando voltarmos à rotina normal, precisamos ter a consciência de que temos sempre de nos dedicar ao máximo a eles e aproveitar muito as oportunidades que a vida nos dá”. Que assim seja.